À Volta das Cavadas
Ciclo de Conversas sobre Território, Cultura e Identidade

A ruralidade Soajeira encerra em si um património rico e diverso, feito de saberes ancestrais, práticas agrícolas sustentadas pela experiência comunitária e uma relação profunda com a terra. As cavadas eram uma das práticas de preparação da terra para a sementeira, revolvendo-se a terra à enxada, geralmente nos campos onde não era possível o uso do arado. Junto de outras práticas de trabalho coletivo na lavoura, fazem parte dos sistemas agrícolas e pastoris tradicionais que, durante séculos, foram o suporte das economias locais e o palco da vida social de muitas gerações. Mas mais do que uma simples prática de cultivo da terra, a cavada é também um símbolo da resiliência, da cooperação e da identidade rural.

O ciclo de conversas À Volta das Cavadas nasce da vontade de refletir sobre esse património material e imaterial, dando lugar de destaque à mulher Soajeira e promovendo um espaço de partilha intergeracional. Através de três sessões temáticas, pretende-se dar voz à comunidade, recuperar memórias, valorizar tradições e lançar novos olhares sobre o presente e o futuro da ruralidade.

Ao longo das conversas, serão abordadas questões fundamentais como o papel das mulheres na organização social e económica da serra, as formas de trabalhar a terra e dela tirar sustento, a partir da estreita relação com o território, no uso e aproveitamento dos seus recursos, o poder da voz e do canto na transmissão de identidade e, por fim, os desafios e oportunidades que a ruralidade enfrenta hoje, sobretudo para os jovens e para aqueles que escolhem regressar ou permanecer no mundo rural.

Cada conversa será seguida de um jantar comunitário, um momento de convívio e partilha, terminando com um espetáculo musical que reforça a importância do canto e da expressão oral na identidade serrana. Os espetáculos serão protagonizados por grupos tradicionais de Soajo, que representam diferentes expressões do património musical local.

Primeira Conversa
A Mulher e a Serra
Guardiã de Saberes e Sustento

As mulheres tiveram e continuam a ter um papel essencial na estrutura social e económica das comunidades serranas. Foram elas que, durante gerações, garantiram o sustento familiar através do trabalho na agricultura, da criação de animais, da transformação dos alimentos e da gestão da casa e dos cuidados da família. Em muitas situações, assumiram também um papel central na economia familiar, através da venda de produtos da lavoura. Foram ainda guardiãs e transmissoras de conhecimento sobre os cultivos, uso das plantas, seleção e conservação de sementes, entre outras técnicas e práticas tradicionais ligadas à transformação artesanal dos alimentos e aos ofícios têxteis.

Nesta conversa, a partir de registos audiovisuais de António Neto e testemunhos de Soajeiras, abordaremos a sua presença ativa no trabalho das cavadas, e em toda a atividade agro-silvo-pastoril, reconhecendo o seu contributo nas dinâmicas sociais da serra, na economia rural, e na preservação do património cultural. Partindo da prática das cavadas, abordaremos também as formas de trabalhar a terra e cultivar o alimento, refletindo sobre a sustentabilidade dos sistemas agrícolas tradicionais serranos, e as mudanças e desafios sentidos na sua manutenção ao longo das últimas 50 décadas.

Espetáculo: As Fiadeiras de Soajo – Cantares e Lanifícios

Após a conversa e o jantar comunitário, a noite encerrará com um espetáculo protagonizado pel’ As Fiadeiras de Soajo, grupo que mantém viva a tradição de fiar a lã, acompanhada de cantares antigos. Esta é uma oportunidade para conhecer um pouco mais sobre os lanifícios na cultura serrana e a importância do trabalho das mulheres na produção têxtil tradicional.

Segunda Conversa
A Voz da Terra
Cantares e Memória das Mulheres Rurais

A voz tem sido um elemento fundamental na construção da identidade rural. Ao longo dos tempos, as mulheres expressaram as suas alegrias, dores e esperanças através do canto, perpetuando uma tradição oral que ainda resiste. Os cantares, entoados durante os trabalhos, na lavoura e na serra, não eram apenas uma forma de amenizar o esforço físico, eram também um veículo de transmissão cultural e emocional.

Nesta conversa, exploraremos a ligação entre a voz, a terra, as suas gentes, os animais e o trabalho, destacando o papel do canto como elemento de união comunitária. Será um momento para escutar, partilhar e compreender como estas expressões musicais refletem o modo de vida das mulheres e como podem ser preservadas e revitalizadas para as gerações futuras.

Espetáculo: As Cantadeiras de Soajo – Cantares e Encontros

Depois do jantar, a noite prossegue com um espetáculo das Cantadeiras de Soajo, que trazem ao público os sons e os ritmos dos cantares das mulheres da serra. Este grupo destaca-se pela interpretação das modas tradicionais e pela força das suas vozes, que ecoam histórias e sentimentos passados de geração em geração.

Terceira Conversa
A Ruralidade Hoje
Um retrato actual da Terra e da Serra

O mundo rural está em transformação. Nos territórios de montanha, onde o pastoreio na serra e o cultivo na terra foram a base da atividade económica, social e cultural, a perda e envelhecimento da população, a diminuição da atividade agrícola, e como ela o abandono dos campos de cultivo, a mudança dos modos de produção e das práticas tradicionais e comunitárias, levantam diversos desafios.
Por outro lado, observa-se um movimento crescente de retorno à terra.
Nesta conversa, abordaremos as formas de trabalhar a terra e a serra, a manutenção da atividade, a revitalização da pastorícia, o papel do turismo sustentável e as oportunidades que o mundo rural pode oferecer às novas gerações. Queremos ouvir, compreender e pensar possibilidades de um futuro sustentável para as comunidades locais e o território que habitam.

Espetáculo: Ranchos de Soajo – A Vida Musical Popular Serrana

Para encerrar este ciclo, teremos um espetáculo com o Rancho Folclórico das Camponesas da Vila de Soajo e o Rancho Folclórico e da Rancho Folclórico da Associação dos Amigos de Vilarinho das Quartas, representantes da tradição musical e coreográfica popular da região. Os ranchos transportam consigo não apenas a música, mas também as danças e os trajes que contam a história da cultura serrana, proporcionando um momento de celebração e identidade coletiva.